New Jersey, 20 de junho de 2018.
Oi Gergelim!
Tu tem nome e é daqueles fortes que só quer dizer coisa boa. Mas Maya, você é essa semente. Semente de amor! Sempre meu Gergelim.
Filha, faz tempo que eu não te escrevo, mas hoje eu queria te falar sobre escolhas, sobre sentimento, sobre pertencimento.
Faltam 2 meses pra você abrir os olhos desse lado de fora e olhar pra esse mundo que, falemos a verdade, está completamente louco. Não existe um lugar sequer, eu acho, que a gente consiga achar perfeito. Porque lugares perfeitos precisariam de pessoas perfeitas e essas, simplesmente, não existem. Mas o lance é que nunca aquela frase “o mundo está ao contrário e ninguém reparou” fez tanto sentido e você escolheu bem essa época maluca pra viver. Mas quem sabe, justamente, não é sua missão fazer a diferença por aqui??? Ser uma agente do bem, da mudança. Seria incrível, filha, mas vamos ver qual caminho você vai escolher.
E falando de escolhas…. Seus pais escolheram viver uma aventura esse ano. Sim, a gente vai sempre optar pela aventura e tenho certeza que você já sente isso! A gente decidiu virar o jogo, mudar tudo, conhecer a fundo um outro país, uma nova cultura, um novo jeito de ver a vida. Ampliar os horizontes, saca? Isso faz um bem… abre a cabeça da gente.
E com isso a gente deixou por um tempo o nosso amado Brasil. Um país que está doente, mas que a gente ama. E por mais que a gente esteja longe, essa brasilidade está aqui dentro do nosso coração. Em forma de lembrança de família, de amigos, de cheiros, de cores, de música.
E o que essa escolha muda pra você? Muita coisa. E, ao mesmo tempo, não muda nada.
Calma que eu te explico!
Muita coisa, porque você vai ser americana. Em tudo que é papel vai estar escrito isso. E você vai carregar esse rótulo pra sempre com você. O que te faz um pouco diferente da gente…. talvez te abra mais portas, talvez te feche algumas janelas.
E ao mesmo tempo isso não muda nada. Porque papel não define a vida, não define sentimento, não te faz diferente de ninguém. Antagônico, né? Mas a vida é assim…
O fato é que o lugar que a gente pertence é o lugar que faz a gente feliz, que deixa o nosso coração em paz. Qualquer um. Pode ser num país, numa cidade, num campo, numa montanha, numa praia, num colo, num abraço. E a gente pode pertencer a vários lugares. E depois mudar de ideia, porque os lugares mudam e a gente muda também.
Mas o que eu preciso te dizer é que você pode ser uma “gringuinha” com sotaque diferente, pode até jurar uma outra bandeira, cantar um outro hino na escola… Mas dentro de ti vai ter um sangue brasileiro. Um gingado gostoso, uma alegria de viver que parece que nasce com a gente. É uma coisa que talvez não te abra tantas portas, mas com certeza vai te abrir sorrisos.
E você vai sorrir de volta quando pisar naquela areia fofa do Rio pela primeira vez. E vai sorrir quando conseguir entender uma música do Caetano (tem umas que talvez você nunca entenda). Quando um sambinha fizer você mexer o quadril sem nem perceber. Quando você olhar as cores do carnaval, das nossas flores ou de um quadro da Beatriz Milhazes ou da Tarsila. Quando você se deparar com uma roda linda de capoeira. Quando você mergulhar num rio de água doce e quente. E vai sorrir quando chupar manga no pé. Quando ficar com o dente preto de açaí. Quando for comer pastel e tomar caldo de cana na feira. Tomar o suco mais doce de laranja feito na hora, no café da manhã. Quando se acabar numa feijoada. Quando descobrir o que é que a baiana tem e quando descobrir o que é a tal da palavra “saudade”.
E eu prometo te mostrar o Brasil e, se Deus quiser, o mundo. Talvez só pra saber qual vai ser sua escolha, seu sentimento. Que lugar você vai resolver chamar de seu.
